Hoje o Brasil voltou pra casa, chorando.

11 de julho de 2014 § Deixe um comentário

Lex Kozlik

Miriane

Miriane chorou também pelos instantes de alegria que não pode viver. Enquanto cozinhava e via seu país perdendo uma partida de futebol, do seu rosto caíram lágrimas no molho do cachorro-quente.

Com as lágrimas brotaram pensamentos. Miriane pensou se seu país deveria apenas ser conhecido como país do futebol mesmo. Ela imaginou que o Brasil pode ser conhecido sim por muitas outras coisas boas.

Miriane derramou esses pensamentos na panela. Quem hoje vai comer cachorro-quente da barraquinha da Miriane? Quem vai pensar como ela?

Miriane lembrou quando chorou nas ruas nos protestos do ano passado e ela sabe que para reconstruir o país vai ser preciso muito trabalho, muito choro. Quem vai chorar com ela?

Ao chegar no ponto, Miriane viu seu ônibus pegando fogo. Ela não sabe como vai voltar pra casa, e nem sabe para onde ir com todos esses pensamentos. Alguém sabe?

Traje

31 de dezembro de 2011 § Deixe um comentário

Lex Kozlik

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Abriu o guardarroupa e viu que não tinha mais nenhum traje para para ir à festa, a festa que acontecia logo ali naquela casa, na casa com a cruz desenhada na parede.

Presépio

24 de dezembro de 2011 § Deixe um comentário

Lex Kozlik

IMG_2833 Até onde a memória alcançava, a nostalgia o fez recordar o presépio, as figuras que tinha representado. Ouviu a melodia dos hinos, atravessou a rua enfeitada e espiou pela porta. Aquele papel não era mais seu. Deu meia volta, apressou os passos e foi aprender a ser quem deveria.

Vira-lata

16 de dezembro de 2011 § Deixe um comentário

Lex Kozlik

controle

Embora já tivesse cansado daquela velha decoração, ele não sabia por que foi levada a pouca mobília que ainda restava em sua casa. Lembrou seus dias e pensou o que faria deles. Fez, fez o que qualquer cachorro vira-lata faria, rasgou o peito. Ele queria proteger a coragem, mas ela não estava mais ali.

Por ali

13 de setembro de 2011 § Deixe um comentário

1 Lex Kozlik

O sol se escondia quando ele desceu do ônibus, atravessou a estação e acenou para o táxi. – Por favor, por ali! Ele e o retrovisor refletiam o que havia ficado para trás. Ansioso para saber se ela ainda estava lá, não pegou o troco, desceu do carro, apressou os passos, virou a chave e empurrou a porta. Olhou em direção ao espelho do quarto e suspirou aliviado – a vida não foi embora.

O peixe

10 de agosto de 2011 § Deixe um comentário

Lex Kozlikmar4 (1 de 1)

Um peixe fora d’água, desenroscado da rede, não sabe para qual cesto vai, nem tão pouco sabe se irá na sexta ou na segunda. 

Caminho

29 de julho de 2011 § Deixe um comentário

Lex Kozlik

caminhar Antes que a tarde caia, vou parar e amarrar o cadarço.

Selah

20 de julho de 2011 § 1 comentário

SelahLex Kozlik

Quem poderá compreender o porquê das palavras mudas?

Quem poderá decifrar o silêncio?

Idas e vindas

9 de abril de 2011 § 3 Comentários

Lex Kozlik

À luz do monitor, procurei aquele livro de história. A tela iluminava o quarto e um bocado de pensamentos que viajavam para longe dali. Da Mesopotâmia à promessa de uma terra. Do Egito à conquista de Canaã. Da construção do templo à sua destruição. Do cativeiro babilônico à reconstrução. Um homem divide a história e exatamente como antevê, anos mais tarde o exército romano saqueia Jerusalém, derruba o templo e não deixa pedra sobre pedra. Mais de um milhão de judeus são mortos e os remanescentes, espalhados pelas nações. Espanha, Península Ibérica, sul da África e norte da Europa. Alemanha, Polônia e Rússia. A tribulação paira sobre o mundo como a fumaça dos judeus queimados, encobre os céus europeus. Das trevas à Turquia, Grécia, Itália e Portugal e de lá para cá, para as terras tupiniquins. O anti-semitismo romano já havia preparado o caminho. O Anti Cristo entrega dinheiro a Hitler para formar o partido nazista e no Holocausto mais alguns milhões de judeus são brutalmente mortos. No fim do século 19, as perseguições na Europa Oriental  motivam mais migrações. Milhares de judeus abandonam a Alemanha, Polônia, Romênia, Hungria Mapae Checoslováquia. Depois das fugas para a Palestina, em 1948 a fundação do Estado de Israel atrai os sobreviventes dos massacres, mas a região agora estava sobre o controle dos palestinos, que haviam ocupado aquele território. Ainda hoje, os mapas árabes sequer admitem a existência do Estado de Israel, mas lá estão eles, entre conflitos, esperando a construção do terceiro templo no local mais sagrado para os muçulmanos. Conforme a profecia, Jerusalém continua sendo pisada pelos gentios, impedindo que o templo seja erguido e sacrifícios voltem a ser oferecidos para expiação dos pecados e há mais de 1900 anos os judeus estão a pensar do que sua religião é feita. Oh Israel, quantas idas e vindas! A compreensão do que diz aquela enciclopédia me enche de esperança e me encoraja a marchar com a certeza que suas andanças acabarão. No Cordeiro imolado reconhecerá suas profecias e em seus caminhos encontrará a terra que caberá unir as nações em um Reino eterno.

Brasil, abril de 2011.

Lex Kozlik

Entre as linhas do tempo e as entrelinhas da história.

28 de março de 2011 § 6 Comentários

Lex Kozlik

Era março, e eu havia recém-completado vinte e alguns anos, quando atravessei o portão mal pintado de casa, e vi a edição de abril forrando a caixa do correio. Eu até já tinha pensado em cancelar a assinatura da revista, mas nem sequer tentei, preferi deixar como estava. Talvez aquilo me motivasse a andar até a caixa enferrujada que só era entupida por contas.

tarja_pretaAbri a revista e comecei a folheá-la para ver os desenhos, mas não resisti quando olhei para aquela ilustração do Carlos Caminha, combinada ao design de Paula Bustamante, escrevendo o título da matéria da Jeanne Callegari: Tarja preta. 

A tarja era mais antiga do que aquelas das caixinhas de remédio que não se vende sem um papel cheio de garranchos. Index Librorum Prohibitorum, foi essa a taja criada pelo Papa Paulo IV em reação à Reforma, na tentativa de preservar a Igreja Oficial como a única religião verdadeira no mundo.

Para manter seu território, a Igreja foi capaz de muita coisa. Tudo o que fugisse das normas ditadas e aceitas por ela, era censurado e aqueles que desafiavam a fé oficial, se não abjurassem suas opiniões, eram severamente punidos, na maioria das vezes, com a pena de morte. Ninguém podia pensar por si mesmo e quem ousasse manifestar suas dúvidas sobre o direito da Igreja em mandar e desmandar em todos, certamente, teria uma vida muito curta.

Por meio de doutrinas rígidas impostas, a Igreja reinou suprema. A população não sabia ler, nem tão pouco escrever, e acreditava no que os líderes religiosos afirmavam, afinal, eles diziam ser os porta-vozes de Deus na terra. Os textos sagrados não estavam disponíveis, pois eram reproduzidos em latim, lentamente, pelas mãos dos monges copistas, e esta língua, só era dominada por clérigos e poucos nobres.

A partir da criação da prensa móvel pelo alemão Gutenberg, esse cenário começa a mudar. Depois de 5 anos de trabalho, em 1455 é impresso o primeiro livro, a Bíblia e em 1500, quando Cabral dizia descobrir nossas terras, a Europa Ocidental já produzia mais de 20 milhões de exemplares.

Em 1517, a Reforma, iniciada por Martinho Lutero, começa a brilhar e o poder da Igreja é minado. Lutero traduz a Bíblia para o alemão e a Palavra ressurge ao mundo, já que até então a Igreja Oficial era sua a guardiã. As versões ajudam a alfabetizar os fiéis e é ai que a Igreja, na Contra-Reforma, ataca com uma das muitas armas que usou, o Index Librorum Prohibitorum, a tarja preta.

O primeiro a ser vetado por esta tarja, claro, é Lutero, já que foi ele quem trouxe à luz alguns dos erros doutrinários e as barbáries cometidas pela Igreja durante os séculos em dezenas de milhões de pessoas foram perseguidas, torturadas, crucificadas, apedrejadas, cegadas, decapitadas ou mandadas às chamas. Esse foi o preço a pagar pela difusão do conhecimento. Aqueles que desafiavam à tradição e discordavam da interpretação oficial da Igreja tinham este destino.

Muitas outras foram as medidas restritivas e brutais que surgiram no decorrer dos séculos, mas só entre os séculos 18 e 19, os regimes absolutistas da Igreja perdem terreno na Europa, diante da Revolução Francesa e dos ideais iluministas e, o Vaticano, começa a perder o poder absoluto.

A matéria, aquela da revista, da revista de abril, do mês que ainda não chegou, não fala tudo isso, mas não precisamos muito para cruzar teologia e história e se surpreender com o passado que pouco entendíamos. Como dizem por aí, os ecos do passado influenciam os fatos do presente, a marca da besta que o diga. Então não posso falar que me surpreendo ao ver que os oficiais da Santa Inquisição trocaram de roupa e endereço e do alto de seus púlpitos voltaram a perseguir e exilar os que enxergam além dos dogmas da época.

Quantas edições faltam para que entendam o que estamos falando? A história pode ser incompreendida, porém jamais mentiu. A prostituta se manchou com sangue dos que amaram sua fé mais do que a vida, e ainda há quem diga que o Anticristo está por vir…

Lex Kozlik